Whey protein, implicações metabólicas.

Diogo Círico 06/01/2016

“Esse Whey Protein está caro demais, vou comprar frango que dá na mesma coisa…”

Esse texto é para a galera das 2gr de proteína por kg de peso, para quem pensa que “bater os macros” é o suficiente.

WPC

Carboidratos, proteínas, gorduras, sais minerais, vitaminas, fibras, água, compostos bioativos… Nosso organismo precisa destes elementos todos, em quantidade e forma ideal para que seja possível atingirmos 100% de nossa capacidade atlética.

Cada nutriente destes que foram citados possuem uma implicação metabólica distinta, ou seja, cada um deles terá um comportamento especifico dentro de nosso metabolismo, estimularão reações bioquímicas especificas. Carboidratos, são usados para formar energia, proteínas são elementos estruturais.. e assim por diante.

Os 3 elementos fornecedores de energia chamados de macro nutrientes, possuem diferentes formas estruturais, no caso dos carboidratos existem os que são considerados complexos e também os que são de estrutura molecular simples. As gorduras podem ser saturadas, insaturadas.. Já as proteínas possuem uma particularidade muito importante, elas são formadas pela ligação de aminoácidos, são 20 tipos diferentes que podem ser encontrados nos alimentos. A forma como estarão ligados entre si determina quais serão as implicações metabólicas das proteínas.

Cada tipo de formação diferente gera resposta especificas do organismo, existem infinitas possibilidade de combinação destes aminoácidos, desta forma cada alimento ou suplemento fonte de proteína possui implicação metabólica especifica. As proteínas encontradas no alimento frango, por exemplo, são diferentes das proteínas encontradas no soro do leite. Este é o motivo deste texto, “volta e meia” ainda encontro algumas pessoas falando que comer frango gera os mesmos benefícios de se consumir Whey protein.

Nas ultimas décadas tem sido desenvolvido muitos trabalhos de pesquisa a cerca das qualidades nutricionais das proteínas do soro do leite (Whey Protein). A primeira descrição de seus benefícios a saúde foi feita por um médico na década de 70.

As proteínas do soro do leite apresentam uma estrutura globular contendo algumas pontes de dissulfeto, que conferem um certo grau de estabilidade estrutural. As frações, ou peptídeos do soro, são constituídas de: beta-lactoglobulina (BLG), alfa-lactoalbumina (ALA), albumina do soro bovino (BSA), imunoglobulinas (Ig’s) e glico-macropeptídeos (GMP). Essas frações podem variar em tamanho, peso molecular e função, fornecendo às proteínas do soro características especiais.

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Conforme descrito acima, cada proteínas, cada peptídeo diferente possuirá funções e implicações especificas. BLG por exemplo é resistente à ação de ácidos e enzimas proteolíticas presentes no estômago, sendo, portanto, absorvida no intestino delgado.

ALA possui a capacidade de se ligar a certos minerais, como cálcio e zinco, o que pode afetar positivamente sua absorção. Além disso, a fração ALA apresenta atividade antimicrobiana contra bactérias patogênicas, como, por exemplo, Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae3.

BSA é rico em cistina é relevante precursor da síntese de glutationa. Possui afinidade por ácidos graxos livres e outros lipídeos, favorecendo seu transporte na corrente sanguínea.

As Ig’s estão presentes no leite bovino são IgG, IgA, IgM e IgE, sendo a IgG a principal. As principais ações biológicas destas moléculas residem na imunidade passiva e atividade antioxidante.

O GMP é um peptídeo resistente ao calor, à digestão assim como a mudanças de pH. Apresenta alta carga negativa, que favorece a absorção de minerais pelo epitélio intestinal, e, assim como a fração BLG, possui alto teor de aminoácidos essenciais.

As sub-frações ou peptídeos secundários das proteínas do soro são assim denominadas por se apresentarem em pequenas concentrações no leite. Compreendem as sub-frações: lactoferrina, beta-microglobulinas, gama-globulinas, lacto-peroxidase, lisozima, lactolina, relaxina, lactofano, fatores de crescimento IGF-1 e IGF-2, proteoses-peptonas e aminoácidos livres. Tais nutrientes fornecem propriedades antimicrobianas importantes, assim como os fatores de crescimento IGF-I e IGF-II.

Composição química das proteínas do soro do leite.

As proteínas do soro podem exibir diferenças na sua composição de macronutrientes e micronutrientes, dependendo da forma utilizada para sua obtenção. 100g de concentrado protéico do soro do leite possui, em média, 414kcal, 80g de proteína, 7g de gordura e 8g de carboidratos.

A composição média de aminoácidos é de 4,9mg de alanina, 2,4mg de arginina, 3,8mg de asparagina, 10,7mg de ácido aspártico, 1,7mg de cisteína, 3,4mg de glutamina, 15,4mg de ácido glutâmico, 1,7mg de glicina, 1,7mg de histidina, 4,7mg de isoleucina, 11,8mg de leucina, 9,5mg de lisina, 3,1mg de metionina, 3,0mg de fenilalanina, 4,2mg de prolina, 3,9mg de serina, 4,6mg de treonina, 1,3mg de triptofano, 3,4mg de tirosina e 4,7mg de valina, por grama de proteína.

Os BCAA perfazem 21,2% e todos os aminoácidos essenciais constituem 42,7%. Esses valores estão acima da média, quando comparados àqueles de outras fontes protéicas, fornecendo às proteínas do soro importantes propriedades nutricionais. Em relação aos micronutrientes, possui, em média, 1,2mg de ferro, 170mg de sódio e 600mg de cálcio por 100g de concentrado protéico.

Com todas estas características, toda esta composição química não pode ser comparada a um alimento comum. Tal composição influencia diretamente as células musculares, tecido adiposo, possui efeitos sobre o desempenho físico, sistema imunológico, controle da pressão arterial, estado de humor, absorção de nutrientes, entre outras.

A influencia sobre o tecido muscular.

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Existem diferentes vias pelas quais as proteínas do soro favorecem a hipertrofia muscular e o ganho de força, otimizando, dessa forma, o treinamento e o desempenho físico. A quantidade e o tipo de proteína ou de aminoácido, fornecidos após o exercício, influenciam a síntese proteica.

Estudos têm mostrado que somente os aminoácidos essenciais, especialmente a leucina, são necessários para estimular a síntese proteica. A ingestão de uma solução contendo proteínas do soro e carboidratos aumenta significantemente as concentrações plasmáticas de 7 aminoácidos essenciais, incluindo os BCAA. Leucina participa no processo iniciando a ativação da síntese protéica.

A leucina tem um papel fundamental no processo de fosforilação de proteínas envolvidas na formação do complexo do fator de iniciação eucariótico 4F (eIF4F), que, por sua vez, inicia a tradução do RNA mensageiro (RNAm) para a síntese global de proteínas. A leucina atua, também, na cascata de reações que promovem a fosforilação da proteína S6 cinase ribossomal (S6K1), que ativa a tradução de proteínas envolvidas no aparato de síntese protéica.

Além disso, a leucina parece atuar na síntese protéica, por outros mecanismos diferentes e independentes dos citados acima. Além disso, pesquisadores destacam que o perfil de aminoácidos das proteínas do soro é muito similar ao das proteínas do músculo esquelético, fornecendo quase todos os aminoácidos em proporção similar às do mesmo, classificando-as como um efetivo suplemento anabólico.

Durante sua metabolização as proteínas do soro aumentam, significativamente, a concentração de insulina plasmática, o que favorece a captação de aminoácidos para o interior da célula muscular, otimizando a síntese e reduzindo o catabolismo proteico.

Os efeitos sobre a gordura corporal

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As proteínas do soro são ricas em cálcio (aproximadamente 600mg/100g). Uma provável explicação seria que o aumento no cálcio dietético reduz as concentrações dos hormônios calcitrópicos, principalmente o 1,25 hidroxicolecalciferol (1,25(OH)2D). Em altas concentrações, esse hormônio estimula a transferência de cálcio para os adipócitos. Nos adipócitos, altas concentrações de cálcio levam à lipogênese (síntese de novo) e à redução da lipólise.

Portanto, a supressão dos hormônios calcitrópicos mediada pelo cálcio dietético, pode ajudar a diminuir a deposição de gordura nos tecidos adiposos.

O alto teor de BCAA das proteínas do soro afeta os processos metabólicos da regulação energética, favorecendo o controle e a redução da gordura corporal. Esses aminoácidos são degradados nos tecidos musculares em proporção relativa à sua ingestão.

Essa degradação aumenta as concentrações plasmáticas dos aminoácidos alanina e glutamina, que são transportadas para o fígado para a produção de glicose (gliconeogênese). Estudos sugerem que o ciclo alanina-glicose contribui em até 40% com a glicose endógena produzida durante o exercício, e em até 70% depois de um jejum noturno, estabilizando, portanto, a glicemia em períodos de jejum.

O desempenho físico

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O estresse oxidativo, produzido durante a atividade física, contribui para o desenvolvimento da fadiga muscular, diminuindo o desempenho. Sabe-se, ainda, que a glutationa é o principal agente antioxidante, o qual depende da concentração intracelular do aminoácido cisteína para ser sintetizado.

Administrando 20g/dia de WPC durante três meses, um grupo de pessoas participantes de uma pesquisa apresentaram um aumento de 35,5% na concentração de glutationa. Além disso, os voluntários suplementados conseguiram gerar mais potência e maior quantidade de trabalho em testes de velocidade, sugerindo melhor rendimento.

O provável efeito estaria relacionado ao alto teor de cisteína das proteínas do soro, o que resultaria em aumento da concentração de glutationa, com subseqüente redução da disfunção muscular causada pelos agentes oxidantes.

Controle de pressão sanguínea

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A importância das proteínas do soro no controle da hipertensão tem sido foco de inúmeras pesquisas. As proteínas do leite possuem peptídeos que inibem a ação da enzima conversora de angiotensina (ECA), que, por sua vez, está envolvida no sistema renina-angiotensina.

A ECA catalisa a formação de um potente vasoconstritor, a angiotensina II e inibe a ação da bradicinina, um vasodilatador. Os peptídeos da caseína (casocininas) e das proteínas do soro (lactocininas) apresentam potente efeito inibidor da ECA.

A terapia do humor

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A disponibilidade de triptofano na corrente sanguínea pode facilitar sua captação pelo cérebro e, dessa forma, favorecer a produção de serotonina. Diversas estratégias nutricionais têm sido investigadas com esse intuito. Entre essas, Markus et al.42 observaram, em pacientes submetidos ao estresse, que a administração de uma dieta enriquecida com a fração ALA (rica em triptofano) aumentou em 48% a relação plasmática Triptofano/Aminoácidos neutros (TRP/AAN), em comparação a uma dieta placebo.

O aumento na disponibilidade de TRP estimulou a produção de serotonina de forma significativa durante pesquisa, melhorou o humor e reduziu a depressão dos sujeitos. Apesar de contraditório às observações de que a administração de precursores da serotonina aumenta as concentrações de cortisol, o aumento na concentração de triptofano reduziu as concentrações desse hormônio. Nesses indivíduos, a atividade da serotonina pode melhorar a adaptação ao estresse, contribuindo para a redução do cortisol.

Proteínas do soro do leite possuem peptídeos bioativos do soro, que conferem a essas proteínas diferentes propriedades funcionais.

Tais proteínas favorecem o anabolismo, assim como a redução do catabolismo proteico, favorecem o ganho de força muscular e reduzindo a perda de massa muscular durante a perda de peso, favorecem a redução da gordura corporal. Melhoram também, o desempenho muscular, exercem papel importante na saúde humana, como, por exemplo, no controle da pressão sanguínea e como agente redutor do risco cardíaco.

Obs. Uma situação bastante “engraçada” são os Whey Protein femininos. Neste texto não se falou em sexo, mas sim em nutrientes. Nutriente é nutriente! É necessário para crianças e idosos, para homens e mulheres. Não existe justificativa para consumir um “Whey Feminino” desses que encontramos por ai.

Mas lembre-se, consumir suplemento sem orientação de profissional pode resultar em desperdício financeiro. Consulte um profissional nutricionista.

Texto elaborado por Diogo Círico, nutricionista esportivo Growth Supplements

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Diogo Círico

Diogo Círico

Nutricionista

Graduado em nutrição em 2007 pela Faculdade Assis Gurgacz, pós-graduação em Nutrição e Atividade Física - 2012, pós-graduação em Nutrição Funcional Esportiva - 2017, desde o inicio buscou destinar suas atividades à nutrição esportiva e também a área de tecnologia de alimentos. À frente das ações técnicas da industria Growth Supplements desde sua criação, já somam-se mais de 10 anos de dedicação, trabalho e pesquisas laboratoriais no desenvolvimento de novos produtos. Hoje suas ações como nutricionista dividem-se entre assessoraria de alguns atletas patrocinados pela Growth Supplements, redação de material técnico cientifico como estes disponíveis no blog GSuplementos e também na liderança da equipe de técnica Growth Supplements . Diogo Cirico; Nutricionista esportivo CRN 10 - 2067